IGUALDADE DE GÊNERO,RAÇA/ETNIA NA EDUCAÇÃO FORMAL- Família, Hierarquias e a interface público/privado.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Grito Negro

José Craveirinha

Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.
Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão,
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.
Eu sou carvão
e tenho que arder sim;
queimar tudo com a força da minha combustão. 
Eu sou carvão;
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão,
até não ser mais a tua mina, patrão. 
Eu sou carvão.
Tenho que arder
Queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu sou o teu carvão,  patrão.

FONTE=
www.revista.agulha.nom.br/cravei06.html

AS POLÍTICAS PÚBLICAS TENDEM A SE VOLTAR MAIS PARA O ATENDIMENTO DAS REIVINDICAÇÕES PLEITEADAS POR MOVIMENTOS SOCIAIS ORGANIZADOS.


A Municipalidade Afonsoclaudense é composta por vários bairros, dentre eles o “São Vicente”, que é formado na um número significativo de cidadãos(ãs) mulatos(as) e negros(as). Os seus habitantes tem a renda per capita mais baixa do Município, e também concentra o maior índice de criminalidade, com problemas sociais significativos para a municipalidade, principalmente aqueles que envolvem o negro(a): prostituição, violência contra a mulher, discriminação racial, estupro, uso de drogas, tráfico de drogas, exploração de mão de obra trabalhista, gravidez na adolescência, alcoolismo, etc...
Esses problemas raciais e sociais são diurnamente perceptíveis nas ruas do bairro São Vicente, e borbulham no cotidiano dos negros(as) que ali residem, comprimindo a dignidade dos(as) mesmo(as), e esmagando a sua autoestima, anestesiando a sua esperança em lutar pelos seus direitos, tornando estoica a sua perspectiva em  lutar por dias melhores e mais justos.
Os habitantes negros do Bairro, de modo especial, as mulheres negras de idade na faixa etária de 18 a 35 anos, na sua maioria -não existem na municipalidade dados oficiais que indiquem com exatidão o índice exato- desempenham como principal atividade econômica a profissão de doméstica, não estudam, têm filhos, não vivem com os companheiros, dependem de creche do governo ou de favor de terceiros para cuidar de seus filhos para trabalhar fora, recebem salário per capita de R$300,00 pela jornada de 45h semanais de serviço.
O índice de criminalidade praticado contra a mulher negróide no bairro “São Vicente” é altíssimo. São cotidianamente lavrados Boletins de Ocorrências de homicídio ( art. 121 do Código Penal); violência doméstica (Lei Maria da Penha); tentativa de Homicídio (art. 121, § 2º); estupro (art. 213 do CP ); atentado violento ao pudor; maus tratos (art. 136 do CP); lesão corporal grave (art. 129 ) ameaça (art. 147 do CP) ; assédio sexual ( art. 216A ); injúria (art. 140 do CP ); difamação (art. 139 do CP ); calúnia (art. 138 do CP ); atentado contra a liberdade de trabalho (art. 197 do CP); constrangimento (art. 197 do CP); ... Como também já foi dito acima, discriminação racial, estupro, uso de drogas, tráfico de drogas, exploração de mão de obra trabalhista feminina, gravidez na adolescência, alcoolismo, etc...
A tomada de medidas Políticas Públicas urgentes são necessárias para dignificar a vida da população feminina negra.
Uma Ação Política eficaz seria a parceria do Ministério Público Estadual com o CAPE ( Centro de Apoio Operacional de Implementação das Políticas da Educação), através da sua dirigente, Dra Maria Cristina Rocha Pimentel, onde um ciclo de palestras ministradas às Mulheres Negras de faixa etária de 18 a 35 anos que residem no Bairro São Vicente, teria como principais objetivos:
-Despertar a consciência crítica das mulheres negras.
-Desenvolver a autoestima das mulheres negróides.
-Resgatar o valor da consciência da diversidade nas mulheres negras.
-Conscientizar as mulheres negras de sua importância como cidadã.
-Selecionar dispositivos legais que amparam e sanam as diferenças sociais do racismo.
-Despertar o reconhecimento da diversidade de raça.
-Desenvolver o potencial das mulheres negras.
-Incentivar a participação igualitária das mulheres negras.
Partindo da mobilização das mulheres negras afonsoclaudenses residentes no bairro “São Vicente” chegar-se-á a ter adultas negras conscientes, sociedade compromissada, informada e que respeita as diversidades do seu grupo.
Não há mudança de realidade, sem transformação de valores, de pensamentos, sem tomada de consciência e atitude daquilo que se quer alcançar- sem informação. A tomada de consciência da problemática social, e principalmente da diversidade de raça e gênero vivida pelas mulheres do Bairro São Vicente, de maneira construtiva e cívica, é construída através da instrução, da informação, da educação. Este é o primordial papel da Educação informal e da formal, é o despertar do cidadão que tem sensibilidade de percepção diante das nuanças de gênero, raça que germinam do âmago da sociedade e se dispõe criticamente perante essas nuanças, ciente de que elas são históricas, concernem ao cidadão, que não existe “verdade” mas “verdades” contextualizadas” que devem ser meditadas reverenciadas de acordo com as suas histórias.
Observa-se, na comunidade Afonsoclaudense, que há a tomada, pelas Autoridades Públicas, de Políticas Públicas paliativas que remediam superficialmente os problemas basais da população, mas que não os atacam em suas raízes para extirpá-los definitivamente, falta vontade política direcionada à raça negra.
Há a distribuição de lanches, o ensino de capoeira, comemorações festivas (dia das crianças, festas natalinas, dia das mães), mas... e os crimes? A falta de estrutura familiar, social, econômica, emocional? Onde estão as  Políticas Públicas na área de Saúde, Educação, Segurança, de qualidade para o Negro(a)? Onde está a participação social? Onde está a isonomia? O que se pratica é o paternalismo, não são políticas públicas efetivas que resgatam a dignidade do negro/a, da sua cidadania afro-brasileira. A sociedade Afonsoclaudense ainda deve isso aos negros, não somente aos negros/as Vicentinos, mas a todos os negros de Afonso Cláudio. Faltam Políticas Públicas que os dignifiquem, que os reconheçam como cidadãos de nossa sociedade.
Abaixo seguem algumas fotos que mostram alguns eventos da Ação Social de Afonso Cláudio com a população Negra de Afonso Cláudio. São encontros realizados em datas comemorativas, como foi exposto acima:
Comemoração Dia das Crianças na Praça de Afonso Cláudio

 
Professor da Secretaria da Ação Social da Prefeitura Municipal ensinando capoeira
no Bairro São Vicente
 

Distribuição de lanche no Bairro


Mulheres Negras do São Vicente recebendo cesta básica
Reunião de Negros/as 


BIBLIOGRAFIA

www.senado.gov.br.legislação.br- acesso em 03/12/2011
Secretaria de Ação Social de Afonso Cláudio-ES.