IGUALDADE DE GÊNERO,RAÇA/ETNIA NA EDUCAÇÃO FORMAL- Família, Hierarquias e a interface público/privado.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

MULHERES NEGRAS E POLÍTICAS PÚBLICAS- Aluna Maristela Garcia Piovezan



As mulheres negras têm trilhado um caminho conturbado há muito tempo com mobilizações, para que a sociedade brasileira seja equânime e dispense aos concidadãos, independente da cor da pele, um tratamento isonômico.
Estes movimentos das mulheres negras abarcam a pressão para o alargamento de diferentes iniciativas  estatais e governamentais adequadas  a alterar expressivamente a exclusão social que  as negras sofrem e que permitem  a germinação de uma sociedade efetivamente democrática.
Um dos alvos basilares da luta do movimento tem sido o despertar da função Estatal na tomada de políticas públicas, na defesa dos interesses da minoria,  eficazes para atenuar a colisão que o racismo, o sexismo e a lesbofobia têm causado nas negras e em suas vidas.
As políticas públicas adotadas pelos governos em relação às mulheres negras estão engatinhando, a consciência de sua importância está aflorando. Há muito que amadurecer. Há muitas limitações ainda.
São muitos os estereótipos que constroem privilégios para um grupo minoritário de sujeitos.
São indivíduos e agregações que carregam as características tidas como ideais: os brancos, os homens; os heterossexuais e, entre eles, os adultos; os que residem nos grandes centros, principalmente nas regiões de maior poder político e econômico; os que não têm qualquer deficiência ou qualquer outra característica que seja motivo de preconceito pela sociedade.
Os fatores que geram diferentes identidades, privilegiando uns em detrimentos de outros, socialmente, gerando assim a exclusão social, são bem claramente detectáveis na sociedade.
A criação social do racismo e da discriminação lançam o indivíduo à maior ou menor exposição  à vulnerabilidades sociais do meio, como a violência, discriminações, rejeição social, etc...
Levando em consideração o que foi exposto acima, as ações políticas e programas destinados às mulheres negras devem essencialmente ponderar a necessidade de abranger não somente o racismo e o sexismo, mas também as iniquidades advindas  da miséria, da baixa escolaridade, das qualidades difíceis de saúde,  das discrepâncias culturais, das diferentes orientações sexuais e da lesbofobia, das necessidades específicas de cada pessoa, e demais fatores que interagem na vida destas cidadãs de modo específico.
É elementar levar em consideração as condições destas mulheres que vivem nessas condições sociais de determinar e enraizar  vulnerabilidades, ou mesmo de gerar fatos que  forneçam a elas mesmas  o duelo  diário com as discrepâncias vividas diariamente e a produção de estratégias de reafirmação de condição de agentes de resistência e mudança social.
Para que se possa garantir que as mulheres negras sejam postas no centro das políticas públicas para a produção da eqüidade, é preciso pôr em ação diferentes mecanismos e buscar desmontar de forma simultânea os diferentes eixos de subordinação.
As mulheres negras tem que se organizar politicamente e adquirir força política para participar ativamente daquilo que elas almejam: políticas públicas que garantam dignidade de vida. As mulheres negras têm  que ser determinantes no gerenciamento destas políticas para delas poderem também se beneficiar, pois só assim terão acesso ao poder de decisão e de ação. No caso da formulação, monitoramento e avaliação das políticas públicas, a centralidade das mulheres negras precisa ser desenhada numa abordagem múltipla e simultânea de diferentes aspectos. Entre eles estão: definição de prioridades; metas diferenciadas; magnitude das ações; orçamento específico e participação na formulação, monitoramento e avaliação das propostas. As mulheres negras têm que ser agentes políticas e não passivas, subordinadas, marginalizadas.

BIBLIOGRAFIA
ARAÚJO, Ricardo Benzaquen de. Guerra e Paz: Casa-Grande & Senzala e a Obra de Gilberto Freyre nos Anos 20, Rio de Janeiro: Ed. 34, 1994.
BARBOSA, Waldemar de Almeida. Negros e Quilombos em Minas Gerais. Belo Horizonte, l972.
BERND, Zilá. A Questão da Negritude. São Paulo: Brasiliense, 1984.
BOSI, Alfredo. Dialética da Colonização. São Paulo, Cia. das Letras, 1993.
CARDOSO, Ciro Flamarion. (Org.). Escravidão e Abolição no Brasil. Novas perspectivas. RJ., Jorge Zahar, 1988.
CARNEIRO, M. L. Fucci.  O Racismo na História do Brasil. São Paulo, Ática, 1998.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

"EU TENHO UM SONHO Discurso de Martin Luther King (28/08/1963)"

"Eu estou contente em unir-me a vocês no dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação.
 Há cem anos atrás, um grande americano, na qual estamos sob sua simbólica sombra, assinou a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de esperança para milhões de escravos negros que tinham murchados nas chamas da injustiça.
Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros. 
Mas cem anos depois, o Negro ainda não é livre. 
Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação e as cadeias de discriminação. 
Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material.
Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade americana e se encontram exilados em sua própria terra. Assim, nós viemos aqui hoje para dramatizar sua vergonhosa condição. 
 De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória para a qual todo americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os homens negros, como também os homens brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo negro um cheque sem fundos, um cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes". 
 Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da justiça. 
 Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o momento para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranqüilizante do gradualismo. 
Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia. 
Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol da justiça racial. 
Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a pedra sólida da fraternidade. Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus. 
 Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este verão sufocante do legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador outono de liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo. Esses que esperam que o Negro agora estará contente, terão um violento despertar se a nação votar aos negócios de sempre.
 Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser culpados de ações de injustiças. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. Novamente e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à comunidade negra que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só. 
E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos à frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os devotos dos direitos civis, "Quando vocês estarão satisfeitos?" 
 Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos motéis das estradas e os hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem abaixo como águas de uma poderosa correnteza. 
 Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns de você vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade lhe deixaram marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos de brutalidade policial. Você são o veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixe caiar no vale de desespero. 
 Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano. 
 Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais. 
 Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos descendentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade. 
 Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça. 
 Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje! 
 Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje! 
 Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta. 
 Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado. 
 "Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto.  Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,  De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!" 
 E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro.  E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire.  Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York. 
Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.  Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado. 
 Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.  Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.  Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.  Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi. 
 Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade. 
 E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho espiritual negro:  "Livre afinal, livre afinal. 
 Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal." 

FONTE- Acesso em 05/11/2011 - http://www.cedine.rj.gov.br/arquivos/martin_eu_tenho_um_sonho.pdf. POSTADO PELA ALUNA Maristela Garcia Piovezan.